O Peak Time é um programa do canal JTBC cujo objetivo é dar visibilidade para grupos de k-pop da ativa e inativos que gostariam de ter mais uma chance no estrelato. A premissa principal foi a da pandemia, considerando que muitos grupos de empresas menores precisaram ter suas atividades pausadas ou encerradas por causa da falta de recursos.

Vou explicar melhor.

No k-pop, existem as empresas grandes (SM, YG, JYPE, Hybe) cujos grupos têm garantia de sucesso devido ao legado da própria empresa. Por exemplo, sabemos que um grupo saído da SM sempre terá excelentes vocalistas, esse é o legado da empresa. Sabemos também que um grupo da YG terá rappers fortes e presença de palco. E esses grupos sempre, independente de qualquer coisa, vão vender bem. Até quando eles vendem mais ou menos, é muito melhor que os outros reles mortais.

A primeira leva de reles mortais é o das empresas de médio porte (Starship, Cube, Jellyfish, Fantagio, FNC, RBWM e agora eu diria até KQ). Embora nem sempre seja assim, essas empresas estão suficientemente estáveis para manter seus grupos mesmo em momentos de dificuldade, e têm alguma reputação - mesmo que nem sempre boa. Essas empresas têm carros-chefes que vão muito bem, obrigado, e dão respaldo para que os artistas continuem em atividade e boa parte delas também é sustentada por uma gama de atores renomados na Coreia (como é o caso principalmente da Fantagio e da Starship).

E então nós temos as empresas pequenas que estão sempre em maus bocados. São muitas, não dá pra exemplificar, e essas empresas sempre dão tiro no escuro na esperança de atingir algo. Se você conversar com qualquer kpopeiro por aí, vai descobrir do que se trata: é a busca pelo efeito BigHit - não exatamente um anseio de se tornar a Hybe e comprar todo mundo como uma Disney desvairada, mas sim a vontade de ver esse pequeno time de artistas sonhadores, seu investimento mais valioso, dando retorno de alguma maneira.

Em tempos melhores, os artistas dessas empresas de pequeno porte tiravam seu sustento e construíam suas bases de fã em shows de rua (busking). Com a pandemia, essa possibilidade acabou, e ainda não voltou efetivamente a acontecer. É por isso que vimos tantas empresas fechando e grupos sendo dissolvidos.

A concorrência no k-pop, especialmente agora, nessa 4ª geração, é tenebrosa. Além da globalização do k-pop ter dado falsas esperanças de um mercado abrangente, a geração foi quebrada no meio por uma pandemia que ainda não acabou e gerou incerteza por toda parte. Durante os anos de 2020 e 2021, a quantidade de notícias que vimos de grupos dissolvendo por falta de recursos e falência da empresa foi difícil de contar.

Ao mesmo tempo, grupos que já iam bem, se estabeleciam ainda mais. Os grupos femininos passaram a vender álbuns na casa do milhão e artistas novos como o IVE, Tomorrow X Together, LE SSERAFIM, (G)I-DLE, Stray Kids e ATEEZ se firmaram como líderes da 4ª geração. O peso que BTS e Blackpink carregavam sozinhos — dessa MASSA de sucesso descontrolado — começou a se espalhar.

Não entenda errado, eles ainda são os dois grupos mais populares da atualidade. Mas começamos a ver um leque maior de artistas tendo seu lugar ao sol da estabilidade musical. Além dos que mencionei anteriormente, os veteranos Seventeen e TWICE podem ser mencionados como exemplo dessa diluição do sucesso que estava centralizado no BTS e no Blackpink.

(Isso também não quer dizer que os fãs desses grupos estão debandando para outros, pelo amor de Deus, viu? Só estou falando que tem mais artistas chegando no topo com eles)

E o que isso tem a ver com a premissa do programa Peak Time que eu mencionei no início?

Bom, se a gente olhar pra história do k-pop um pouco mais vai entender como as coisas realmente são cíclicas, porque estamos caminhando para um ponto parecido com o que era a 2ª geração do k-pop.

Agora, vou deixar claro que eu cheguei no k-pop em 2018, a época em que a 3ª geração transicionou para a 4ª, e não sou assim tão expert em história do k-pop, eu só sei um monte de trivia e observei uma quantidade okay de coisas, então boa parte do que estou falando vem das vozes da minha cabeça, mas urso comigo aqui que eu tenho um ponto para chegar.

Embora na 2ª geração já houvesse as grandes empresas (na época, Big Three) com seus grandes grupos, sempre havia música boa para se ouvir e conteúdo para os mais diversos gostos. Enquanto artistas como Super Junior, BoA, Shinee e Girls’ Generation na SM, 2NE1 e BigBang na YG e Miss A, 2PM e Wonder Girls na JYPE corriam na frente, ainda existiam os After School (Pledis - agora da Hybe), Sistar (Starship), 4MINUTE e BEAST (Cube, que passou a se chamar HIGHLIGHT após sair da empresa), INFINITE (Woollim), Block B (KQ) e vários outros grupos e subunidades correndo por fora que deixavam o k-pop interessante.

Tudo isso praticamente acabou na 3ª geração. Os artistas debutados entre 2012 e 2013 foram esvaindo um por um seja por causa de escândalos ou mau gerenciamento. Um dos grupos mais promissores, o NU’EST (Pledis na época), estava à beira do disband quando 4 dos seus 5 membros foram enviados pro Produce 101, um programa da MNet de formação de grupo que literalmente salvou a carreira dos meninos.

Posteriormente, um dos membros entraria no grupo do Produce, o Wanna One (Swing Ent.), e os membros restantes voltaram a promover como a subunidade W, que finalmente ganhou tração de novo. Quando o Minhyun voltou do Wanna One, a estabilidade segura do NU’EST se manteve até que o grupo fosse dissolvido de maneira covarde pela empresa em 2022. É uma história longa que não cabe aqui nesse momento.

Quem sobrou dessa tal 3ª geração, você deve se perguntar.

Bem, adivinha?

Os carros chefes são, como pode imaginar, BTS (Hybe) e Blackpink (YG). Seu legado já vem durando há algum tempo, sim. Além deles, temos o EXO e o Red Velvet (SM), TWICE (JYPE) e GOT7 (promovendo sob a Warner após deixar a JYPE), Seventeen (Pledis-Hybe), iKON (143 Ent) e Monsta X (Starship) como principais nomes depois dos principais, além do ASTRO (Fantagio) e Oh My Girl e Mamamoo (RBWM) que também deixaram suas marcas na história do k-pop.

(outro grupo importante na 3ª geração é o GFriend, que era da Source Music, mas o grupo foi dissolvido em 2021 de maneira similar ao que aconteceu com o NU’EST)

Parece bastante gente, mas não se compara à quantidade de artistas ainda para trás, inclusive que marcaram o k-pop (como é o caso do VIXX, da Jellyfish, por exemplo) muito menos à quantidade que chegou desde 2018. É por isso que a gente chega agora no que gosto de chamar “Efeito Reino”.

Início de um sonho

Em meio à eminente ruína do seu programa de formação mais forte — definitivamente o melhor formador de grupos da época —, a série Produce, o canal MNet (que é tipo um MTV dos cara) lançou a primeira instância da série do reino chamado Queendom.

O programa reunia 6 artistas entre grupos e solista com debuts em anos variados e de empresas de diferentes portes para concorrer ao título de rainha do k-pop. O ano era 2019 e as artistas em questão eram Mamamoo (RBW) consagrado vencedor, Park Bom do 2NE1, (G)I-DLE (Cube), Lovelyz (Woollim), Oh My Girl (WM) e AOA (FNC). Embora tivesse narrativas bem delineadas, a primeira temporada do Queendom rendeu bem nos quesitos performances incríveis e amizades do pop que a gente quer ver, mas aparentemente não era isso que o canal queria ver.

Em 2020, em meio à pandemia, a MNet lançou a segunda versão do reino para meninos: muito mais brutal e desconfortável desde o início. Eles pegaram 7 grupos masculinos, também de diferentes anos de debut e de empresas com diferentes portes para concorrer a uma chance de concorrer ao Kingdom. A temporada foi intitulada “Road to Kingdom”. Os grupos em questão eram The Boyz (IST) consagrado vencedor, ONF (WM), TOO (Wake One), Golden Child (Woollim), Pentagon (Cube), ONEUS (RBW) e VeriVery (Jellyfish). Com eliminações, tortura psicológica e edição maldosa, a única coisa boa que saiu dessa temporada foram as performances incríveis semana após semana.

Deu tudo errado

A terceira temporada veio em 2021, também entre grupos masculinos e dessa vez sob o nome Kingdom: Legendary War. A MNet nem escondia mais que queria, na verdade, uma verdadeira guerra lendária, especialmente considerando que grupos masculinos são o que chamam de “carregados pelo fandom”. Esse é um assunto que posso abordar melhor em outra ocasião. Pra início de conversa, convocaram os chamados ZZZ para o elenco: três grupos da nova geração que já batiam de frente em vendas e cujos fandoms já não se bicavam — o vencedor do RTK The Boyz, o Stray Kids (JYPE) e o ATEEZ (KQ). Para completar o elenco, foram convidados o iKON (na época ainda na YG), BTOB (Cube) e SF9 (FNC). Quem ganhou foi o Stray Kids, mas não sem tortura psicológica, edição maldosa e narrativas mal feitas pra todo mundo. De novo, a única coisa boa foram as performances.

A série do reino já não nos dava mais amizades do pop que queríamos ver. O tempo que a gente, como telespectador, passava sentindo raiva era muito maior e o jeito como a 4ª temporada (Queendom 2: Run the world) foi comandada não ajudou em nada a melhorar a imagem do programa e muito menos do canal. Pra completar, o condenado programa de formação de grupo, Produce, foi repaginado como Girls/Boys Planet, mas a MNet perdeu o mojo que tinha entre 2016 e 2019, as coisas mudaram, e o interesse pelo tipo de narrativa que eles promovem caiu drasticamente.

Pra piorar a situação, o retorno imediato que as participantes da primeira temporada to Reino tiveram não aconteceu nas temporadas seguintes. Das 6 concorrentes da primeira temporada, apenas um grupo foi dissolvido (1 bj, Lovelyz) e um implodiu (AOA). I-DLE, Mamamoo e Oh My Girl decolaram e estabilizaram super rápido, mesmo através das crises internas.

Levou quase um ano para os grupos do Road to Kingdom começarem a ver resultados melhores. Dos 7, apenas o TOO, que agora chama TO1, ainda não teve sua primeira vitória em music show, mas isso é por pura incompetência da Wake One. Quem se deu melhor provavelmente foi o The Boyz e o ONF — o segundo por ter caído nas graças do público coreano tal qual aconteceu com suas veteranas do Oh My Girl.

Do Kingdom, as vendas do ATEEZ, The Boyz e Stray Kids subiram de foguete alguns meses após o fim do programa e, se não me engano, os três bateram o milhão de vendas por álbum com seus comebacks mais recentes. Fora eles, o BTOB é o BTOB e ninguém precisa se preocupar com eles, o iKON conseguiu a tão sonhada liberdade, e o SF9 estabilizou com o tempo. AGORA, dois anos depois, os grupos vão…….bem. Os das temporadas 2 e 3.

Já as meninas da 4ª temporada… as vencedoras Cosmic Girls (Starship) continuam comendo o pão que o diabo amassou, mesmo que estejam consistentemente soltando música boa. O VIVIZ (BPM) teve um pequeno surto mas parece que está okay. A Hyolyn do Sistar é a Hyolyn e é a gente que precisa dela, não o contrário. Já o Brave Girls (Brave Ent), Kep1er (Wake One) e LOONA (BBC)… 😬 Dureza. Vai dar um ano da final e o futuro não está muito brilhante para mais da metade das participantes.

E é assim que chegamos à nova era que precisa ficar

Um dos principais comentários que se via por aí na época da série do reino era “Já pensou a gente ter um programa com os grupos assim, todo mundo feliz, apresentando músicas boas e sendo amigos? Seria meu sonho??”

Parece que ouviram nossas orações.

Num outro canal quase não relacionado à MNet, um fio de esperança surgiu quando o Peak Time foi anunciado. A premissa é de ajudar artistas que tiveram a carreira prejudicada, como comentei no início e embora essa primeira temporada ainda tenha algumas falhas, ela ainda está sendo muito melhor do que poderíamos prever.

E pegadinha, tem? Claro que tem. Os participantes são “anônimos”.

A intenção do Peak Time é colocar esses participantes em pé de igualdade. Quem só assiste o programa — e não vai correndo atrás de página no wiki, nem tem a busca salva no twitter como eu — tem poucas informações sobre eles: nos primeiros episódios, a divisão era simples, entre grupos recém-debutados, grupos em atividade, mas com pouca visibilidade e grupos em hiatus ou dissolvidos.

Dentre as três categorias haviam 23 times, cada um sob uma hora, ou seja, time 1:00, time 2:00, time 3:00 até as 23:00. O time das 24:00 foi formado por solistas que não puderam participar com seus respectivos grupos pelos mais diversos motivos.

Sem saber quem esses participantes são, apenas com uma vaga ideia do tempo de estrada que têm, o critério de julgamento é pura e simplesmente: talento.

A bancada de jurados consiste em 8 artistas e produtores renomados no k-pop. A liderança dos jurados é de Kyuhyun, do Super Junior. Outros artistas que compõem a bancada são Mino (WINNER) que foi substituído pela Moonbyul (Mamamoo) depois de ser chamado pro exército, Sungkyu (INFINITE), Gikwang (HIGHLIGHT), Tiffany (Girls’ Generation) e Jay Park. Os outros dois jurados são o produtor Ryan Jhun (por trás do IVE) e o coreógrafo Shim Jaewon (por trás de artistas da SM).

Conseguiu perceber algo entre esses nomes? Volta alguns parágrafos pra ter certeza, eu espero.

Viu? Pois é, é um time de respeito. Um time de respeito que está demonstrando um baita respeito pelos competidores do Peak Time.

Desde o primeiro episódio, foi surpreendente ver os rapazes todos torcendo uns pelos outros. Para passar na primeira fase na rodada da sobrevivência era preciso receber pelo menos 7 votos. Os que tivessem 4 a 6 votos seriam reavaliados e os com menos que isso, eram eliminados na hora. Enquanto se apresentavam, os grupos ao redor eram vistos contando os votos dos jurados, torcendo para que as luzes se acendessem para que aquele concorrente pudesse continuar na disputa. Quando alguém ia mal, seus concorrentes lamentavam.

A atmosfera, desde o início, era sensivelmente diferente. A edição é amigável e acolhedora como já havia sido esquecido que era possível fazer.

Dos 23 times que concorriam, 7 foram eliminados na primeira rodada. Dos oito ou nove solistas que concorreram para a formação do grupo 24:00, 5 passaram. Quando são eliminados, os concorrentes podem falar o nome do seu grupo e se despedir da competição.

Até agora, passamos por quatro rodadas e duas eliminações, a terceira é no episódio 10 que vai ao ar dia 13/4 e vai determinar os 6 primeiros colocados. A partir dessa fase, os concorrentes podem competir sob o nome dos seus grupos e não mais como uma hora de pico. Eles podem dizer de que empresa veem e chamar seus fãs pelo nome.

Essa é a oportunidade que muitos grupos desconhecidos ou anteriormente esquecidos estão tendo para provar pro grande público que são bons, que estão aqui e que podem se tornar o próximo Oh My Girl e ONF, para que um dia possam ser os artistas que correm por fora de maneira estável lançando música boa e sendo lembrados como Gikwang do HIGHLIGHT, Sungkyu do INFINITE, Moonbyul do Mamamoo, Jay Park (que talvez eu deva acrescentar, é ex-membro do 2PM).

O Peak Time ainda não acabou, então não sabemos as consequências que o programa terá. Ainda não sabemos se seus participantes terão sucesso suficiente para alcançar o que almejam, mas sabemos que muitos deles já estão com perspectivas melhores para o futuro. O mais estável primeiro colocado é o grupo das 11:00, Vanner. Eu conhecia um total de 1 (uma) música deles, essa:

Boa, né? Olha o que a gente tá perdendo, cara! A história deles é muito ótima, mas não cabe aqui. Vou falar das minhas performances preferidas nas próximas postagens, que provavelmente virão rápido se eu mantiver minha motivação, então talvez você receba mais emails que o comum esse mês. Desculpa, estou empolgadinha.

É provável que eu despeje um pouco mais sobre meu conhecimento trivial de programas de sobrevivência coreano nas próximas postagens também, então se isso te interessa, volta mais tarde.

Por agora, vou encerrar mostrando os grupos participantes do Peak Time que eu já conhecia e torcia, só porque sim.

3:00 — IN2IT

Obs.: Recentemente, o grupo mudou de nome para Skye, mas quando concorreu, ainda era como IN2IT.

8:00 — DKB

12:00 — Kingdom

13:00 — BAE173

14:00 — GHOST9

18:00 — BDC

24:00 — Moon Jongup (B.A.P)

Espero que você esteja interessado a embarcar nessa jornada de análise e ranking pessoal do Peak Time comigo. Eu não sei pra onde ela vai e não pretendo mandar todos as postagens por e-mail, vou ver o que acontece.

Eu adoraria saber a opinião de vocês sobre o programa e sobre esse tipo de postagem, então pode ficar à vontade para usar a seção de comentários, tá?

Até breve!

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