Eu não sou uma pessoa festeira nem gosto de sair de casa, então se você acha que eu passei a maior parte das férias fazendo com que todo mundo esqueça que eu existo, você acertou!

As duas primeiras semanas foram mais de boa e na última quinzena tive alguns compromissos. Passei uns dias na casa dos meus pais, fui em feira gastronômica, em evento de k-pop, aquelas coisas que fazem bem.
Ah, também passei raiva no SESC. Mas essa história não é tão interessante, então vamos ao que interessa.
Mais uma vez, trago um texto da história de Bico da Mata, dessa vez com dois personagens que não têm destaque no conto que submeti para a revista. Como sabem, ainda estou testando as águas dessa história pra saber se ela vai ser um volume único ou se tem potencial para virar algo mais. Espero que estejam empolgados para descobrir comigo, vocês muitas pessoas que com certeza estão lendo essa newsletter até o final.
Partiu?
🎧 Seulgi — Baby, not baby
Lhes apresento: minha personalidade em março.
Seulgi, membro do Red Velvet, fez seu primeiro comeback solo com uma faixa mais que icônica, groovy e deliciosa de ouvir, cheia de ganchos melódicos que te deixam cantarolando por semanas!
Eu mesma estou cantarolando até agora e não sei apontar o que mais gosto. Seria o oops, I did… I did it again na primeira estrofe? Talvez o próprio refrão com I’m your baaaaaaby, not baby! cheio de atitude? Talvez.
E talvez tenha a ver com o fato de que a Seulgi tá uma delícia nessa música, né gente? 😏 Mas acho que se você der play, também vai ser pego, então faça isso por sua conta e risco.
Nota: Esse comeback foi na mesma época do debut solo da Yeji (ITZY), então as duas promoveram juntas. Como a música da Yeji chama Air, elas ganharam o apelido de unit AIRBNB 🤭
📺 A clínica do Dr. Coto (2003)

Por algum motivo, a Netflix resolveu resgatar uma série médica japonesa de 2003 e eu acho que meu objetivo do ano é assistir uma série médica asiática por mês, pelo visto, porque eu fui facilmente convencida a dar play nessa 😅
A clínica do Dr. Coto conta a história de um médico chamado Goto que aceita trabalhar numa ilha remota ao sul do Japão. Com cerca de 2000 habitantes, a gente vai acompanhando a jornada de Goto em conquistar a confiança dos moradores, os relacionamentos que ele constrói e também vemos a rotina daqueles moradores que vivem basicamente da pesca.
Essa série tem duas temporadas com um gap de três anos entre elas e foi inspirada em um mangá de mesmo nome. Além das temporadas, ela tem alguns especiais e um filme de 2022, mas os conteúdos extra eu ainda não vi.
Como a Netflix resolveu colocar Weak Hero Class 1 no catálogo para antecipar a segunda temporada, o fato de terem adicionado Dr. Coto pode significar que também encomendaram uma nova temporada pra ela. Oportunidade tem, visto que o elenco original voltou pro filme quase 19 anos depois. O tempo dirá.
🎧 Xdinary Heroes — Beautiful life
O rock melódico vive!
Xdinary Heroes raramente erra com seu jeitão despreocupado de fazer música, mas desde o excelente DEADLOCK (2023) eles não lançavam algo impactante o suficiente (é muito, muito difícil bater Good Enough, eu já falei dela aqui antes), mas dessa vez os meninos se superaram, hein?
A música título, Beautiful life, bebeu da fonte daquele rock anos 2000 de Fall Out Boy e Panic! at the Disco que, por sua vez, bebia da fonte do Queen, e com a base vocal do baixista Jooyeon (a face do grupo) e o respaldo dos dois guitarristas Gunil e Junhan, nós temos uma faixa volumosa e deliciosa com um toque de nostalgia de maneiras que você só vai entender quando der play.
Como se isso não fosse o suficiente, o álbum Troubleshooting como um todo é o melhor e mais coeso álbum de música coreana lançado até agora e olha que a competição está boa.
📺 Um amor de cinema (2025)
Da série “fui tapeada por um k-drama”, lhes presenteio: Um amor de cinema. Dá play nesse trailer. Pode ir, eu espero.
Romance, né? Um romance fofo e engraçadinho pra gente assistir na mais pura leveza do fim de semana sem nenhuma preocupação. Certo?
ERRADO 😡
Gente, eu fiquei com um ÓDIO, sabe porque puta que pariu, me enganou muito que raiva, Boyoung, você me paga!!! Porque a série sobre “um amor de cinema” não é sobre amor (embora seja sobre cinema): é sobre luto!
Essa história todinha é sobre luto, sobre a marca e o vazio daqueles que ficam. É uma série devastadora e linda e dolorosa e eu odeio ela.
Assistam. 10 estrelas.
🎧 NMIXX — High horse
Outro concorrente a melhor álbum do ano está aqui: NMIXX.
Gente, eu nem gostava delas quando elas debutaram! Acho que já contei isso, mas além do debut ter sido kibado do ATEEZ, o conceito delas era pavoroso, mas aí uma membro saiu e elas repaginaram e as músicas ficaram boas. A cada comeback, elas ficam melhores, sabe.
O comeback mais recente delas, que saiu mais ou menos na época que elas vieram pro Brasil (não, eu não fui ao show) tem duas músicas principais e escolhi colocar High Horse ali porque ela é tão linda e apoteótica, me lembrou um pouco música de musical, algo meio Wicked no drama, sabe?
Mas o álbum todo é muito bom, de verdade, e a música título, Know about me, é um abuso de boa! Vou deixar aqui a performance que elas fizeram de ambas as faixas mencionadas no It’s Live, porque eita como são boas! Mas recomendo ver a versão de estúdio das duas primeiro, porque ao vivo elas mudaram o arranjo um pouco.

Bico da Mata, 1997
— Franco… Vamos terminar.
As palavras de Patricia ainda ecoavam na cabeça de Franco conforme ele andava para casa. Ele tinha saído de skate, mas agora carregava seu meio de transporte debaixo do braço pois sabia que não poderia se concentrar nas ruas remendadas de Bico da Mata e terminaria se estrupiando inteiro antes de conseguir se acostumar com sua nova realidade.
Franco e Pati namoravam desde o primeiro colegial, quando ele teve coragem para chamá-la para sair. Ela tinha acabado de vencer o concurso de beleza da cidade pela terceira vez e era facilmente a garota mais bonita de toda Bico da Mata, por isso quem quer que fosse namorado dele teria que tratá-la como rainha, algo que ele achou que estivesse fazendo com primor.
Pelo visto, não.
Já há algumas semanas, vinha percebendo que Pati estava distante. Ela passava bastante tempo com Bárbara e João e objetivamente falando, Franco sabia que eles eram amigos de Patricia antes dele entrar na equação, mas a forma como os segredos estavam sendo mantidos sem incluí-lo era perturbadora.
Não dava para esperar que ele levasse essa separação numa boa, não é mesmo? Por isso que ele vinha insistindo em ficar com ela pelo máximo de tempo possível, se intrometendo nas conversas, garantindo que não seria deixado de fora do que quer que fosse que ocupava sua namorada com coisas que não fosse ele.
Mas, no fim das contas, a parte dele que queria achar um absurdo Patricia ter terminado o namoro assim, do nada, não conseguia ter muita força. Porque ele sabia que a decisão dela era justificada.
Franco suspirou dramaticamente e olhou para frente. Ele vinha o caminho todo chutando uma pedrinha, o caminho para casa já no automático, mas conforme se aproximava do local onde cresceu, outro sentimento embrulhava seu estômago.
Hoje, seu pai estava em casa.
Zé Carlos Lisboa se passava muito bem, obrigado, por um ótimo marido, pai e provedor. Quem olhava de fora, jamais imaginaria os horrores vividos na casa trinta e sete da Rua das Oliveiras em Barroco, bairro semi-nobre de Bico da Mata. Motorista de ônibus de viagem, os melhores dias da família eram quando Zé tinha que pegar trajetos longos. Os piores eram quando ele voltava.
Antes de ir pra escola, naquela manhã, sua mãe tinha lhe contado que o pai chegaria por volta da hora do almoço.
— Leva a Nanda pra casa da Patricia com você. — Dona Sandra tinha pedido, algo que não foi possível fazer.
Seu pai tinha chegado mais cedo e buscado Fernanda na escola antes que Franco pudesse chegar. Pelo que a inspetora do Municipal disse, ele chegara pouco antes do sinal tocar e levou a menina.
Para Fernanda, Zé Carlos ainda tentava ser um bom pai. É claro que às vezes ele segurava seu pulso frágil com um pouco mais de força que o necessário (Nanda tinha só treze anos) e é claro que o jeito turrão do pai podia fazê-la se encolher de medo vez ou outra, mas mesmo assim, ele a tratava melhor do que a média.
Pelo menos, para alívio de Franco, ele ainda não tinha dado uma surra na caçula. Já era mais sorte do que a que ele tinha.
Os pensamentos de Franco foram abruptamente interrompidos quando a porta da frente abriu abruptamente. Ele tinha acabado de passar pelo portãozinho e arregalou os olhos ao ver sua mãe vindo em sua direção desesperada, os cabelos ruivos bagunçados e sangue escorrendo de um corte na bochecha.
— Franco. — Sandra exclamou esganiçada, as lágrimas escorrendo em cascata.
Aquela cena era comum, mas nunca fora de casa, aqui no quintal. As casas em Bico da Mata eram de cerca baixa ou praticamente nenhuma e de jeito nenhum Sandra Lisboa mancharia a imagem de sua família — não apenas a que formou com o marido, como principalmente a família boêmia de onde veio. Algo estava terrivelmente errado.
— O que ele fez? — Franco perguntou sentindo o gosto do desespero amargar sua língua. — Cadê a Nanda?
— Mandei se esconder, mas se ele encontrar…
Determinado, Franco ajeitou a pegada no skate.
— Ele não vai. — Afirmou já andando em direção à casa.
Agora que estava perto o suficiente, podia ouvir o som de coisas sendo jogadas no chão, vidro sendo quebrado. Não tão longe, a voz de Zé Carlos ecoou.
— FERNANDA! SE EU TE PEGAR COM AQUELE NEGRINHO!
Era o suficiente para Franco ver vermelho. Aquele filho da puta que era obrigado a chamar de pai. Aquele racista miserável que vinha atormentar sua casa duas a três vezes ao mês. E justo no dia em que Franco estava de mal humor.
Ele encontrou Zé Carlos na sala de TV pronto para jogar o móvel no chão e ambas mãos fecharam no shape do skate, as rodas viradas para baixo e com o máximo de força que conseguiu reunir, Franco mirou.
